junho 29, 2006

Vou atrás

Vou atrás do teu silêncio
Não sei se falo
Ou calo
Não sei se ligo
Ou desligo
Vou atrás do teu silêncio
Não sei se escrevo
Ou apago
Não sei se devo
Fazer aqui um rasgo
Vou atrás do teu silêncio
Não sei se deixo andar
Ou preciso de travar
Vou atrás do teu silêncio
Onde vai o teu silêncio?
Será que tem pernas para andar
Asas para voar
Fica estático para o apanhar
Estacionado em algum lugar
Faz marcha-atrás
Ou simplesmente, pelo caminho vai rolar?

adc

junho 28, 2006

O círculo...




O círculo é a forma eleita
É ovo, é zero.
É ciclo, é ciência.
Nele se inclui todo o mistério
E toda a sapiência.
É o que está feito,
Perfeito e determinado,
É o que principia
No que está acabado.
A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.
A senda mais perigosa.
Em nós se consumando,
Passando a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.

Ana Hatherly

junho 16, 2006

Sem Pensar

Na guerra
na aventura
na Serra
no azul do céu
no teu azul
no transformar das espigas
em branca farinha
em nuvem fofinha
em neve que derrete
na água que te refresca
no Sol que me aquece
pudesse eu saber o que espera
pudesse eu mergulhar na Natureza
como tu o fazes
pudesse eu guardar a tua tranquilidade
pudesse eu não mais sentir ansiedade
viver a sério
viver cada segundo
sem pensar, sem querer, só como tu viver

adc

junho 13, 2006

"Veinte poemas de amor y una canción desesperada"



Quanto não te doeu acostumar-te a mim,
à minha alma solitária e selvagem, a meu nome que todos
afugentam.
Tantas vezes vimos arder o luzeiro nos beijando os olhos
e sobre nossas cabeças destorcer-se os crepúsculos
em girantes abanos.
Sobre ti minhas palavras choveram carícias.
Desde faz tempo amei teu corpo de nácar ensolarado.
Chego a te crer a dona do universo.
Te trarei das montanhas flores alegres, copihues,
avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.

Quero fazer contigo
o que a Primavera faz com as cerejas.

Pablo Neruda

junho 12, 2006

A TORRE



Ele queria uma torre
alta
para a sua alma.
Eu, se quisesse
alguma coisa seria um rio;
um rio onde dormir
com a luz destas pedras por navio.

Eugénio de Andrade

junho 08, 2006

De um professor que me deixou boas recordações...

APELO

Se a porta está fechada
abre-me a porta!
Se já a abriste
e eu é que não vejo,
Abre-me os olhos!

Espero uma abertura.
Noel Ferreira

junho 06, 2006

Ocimum minimum Labiatae


Como se fossem tréguas
Ofereceste-me a pequena planta.
Sabias bem o que fazias!
Ando à deriva há dias
Conduzindo pelas ruas
Irritada pelas preocupações tuas.
Volto a casa
E como uma manta
O seu aroma
Aconchega todos os recantos
Convidando a entrar
Sentindo o teu amar.
Descontraída fico
Por saber que estás aí
Por saber que estás aqui
Na presença do aroma
Do teu manjerico.

adc

junho 04, 2006

LIBERDADE

Vivemos com o peso do passado e da semente

esperar tantos anos torna tudo mais urgente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada

só se pode querer tudo quando não se teve nada

só quer a vida cheia quem teve a vida parada

só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver

a paz o pão habitação saúde educação

só há liberdade a sério quando houver

liberdade de mudar e decidir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir

Sérgio Godinho

Nêsperas


Quando é pura a alma
Quando a relação perdura
Nada melhor que receber
Um sorriso, uma presença doce e calma
Um saquito com nêsperas
Douradas, amarelas, alaranjadas
Açucarada a cumplicidade
Glicolisada a amizade
As nêsperas consomem-se
Mas a lembrança de ti
Continuará na fruteira
Uma vida inteira

adc